Adivinha quem bate à porta? A IA descobre a Sala do Conselho
- Gabriel Casara
- 24 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 2 de out.
De ferramenta operacional a voz estratégica: como a inteligência artificial começa a ocupar o espaço das consultorias e a influenciar decisões no mais alto nível corporativo
Gabriel Casara, CGO da BlueMetrics

Resumo gerado por IA:
O artigo discute como a inteligência artificial está deixando de ser apenas uma ferramenta operacional — voltada a automatizar tarefas, relatórios e análises básicas — para se tornar uma voz estratégica dentro das empresas, capaz de influenciar decisões no nível de C-level e conselhos de administração. Ao funcionar de forma semelhante às consultorias tradicionais, mas com maior escala e velocidade, a IA já começa a gerar diagnósticos, simulações e recomendações estratégicas comparáveis ou superiores às de analistas humanos. Estudos da Harvard Business Review e da McKinsey mostram que, em cenários quantitativos, a IA pode até superar líderes humanos em eficiência, embora ainda dependa de executivos para criar estratégias realmente disruptivas. O futuro aponta para conselhos híbridos, onde agentes de IA e lideranças humanas atuam juntos, e a vantagem competitiva estará em como integrar essas inteligências para decisões mais rápidas, precisas e transformadoras.
A IA está galgando postos. Até onde ela vai?
O uso corporativo da inteligência artificial é, até agora, em grande parte operacional. Automatizar tarefas, acelerar relatórios, resumir reuniões, gerar documentos em segundos. Mais recentemente, algumas ferramentas começam a auxiliar também em análises de cenários e projeções. Mas a disrupção que se avizinha é mais profunda: ela pode escalar do chão de fábrica para a mesa do gerente, do C-level e até mesmo dos conselhos de administração.
É nesse ponto que surge uma provocação. A IA, aplicada ao nível estratégico, funciona exatamente como as consultorias sempre funcionaram — só que melhor. O modelo clássico de consultoria se baseia em coletar fatos e dados, analisar séries históricas, montar frameworks, construir modelos estratégicos a partir de casos empresariais passados. É justamente isso que fazem os grandes modelos de linguagem, como os GPTs: recombinam dados já existentes, testam hipóteses, identificam padrões e oferecem recomendações consistentes. Só que em uma escala e velocidade que nenhum exército de analistas humanos poderia replicar.
Pra que serve uma consultoria hoje?
O artigo da The Economist, “Who needs Accenture in the age of AI?” (26 de junho de 2025), descreve esse dilema com clareza. Se durante décadas empresas como a Accenture prosperaram traduzindo complexidade em estratégia, hoje é a própria lógica desse negócio que está sob risco. Por que terceirizar diagnósticos e planos de ação se sistemas internos já podem gerar análises comparáveis — e muitas vezes superiores? Quando a inteligência estratégica se torna parte da própria infraestrutura corporativa, o intermediário passa a ser supérfluo.
Não se trata apenas de teoria. Um artigo da Harvard Business Review, publicado em 2024, argumenta que em várias funções típicas de CEOs — como decisões sobre portfólio de produtos ou alocação de capital — a IA já mostra desempenho mais eficiente do que líderes humanos, especialmente em contextos altamente quantitativos (HBR, “AI Can (Mostly) Outperform Human CEOs”). Na mesma linha, a McKinsey aponta que a IA está transformando a própria prática do desenvolvimento estratégico, permitindo diagnósticos mais rápidos, simulações sofisticadas e redução dos vieses humanos que frequentemente distorcem as escolhas (McKinsey, “How AI is transforming strategy development”).
Ainda assim, há uma fronteira a ser considerada. Os LLMs são treinados sobre dados do passado. Seu poder está em recombinar o já visto, não em inventar o que nunca foi tentado. Isso significa que, embora a IA seja capaz de projetar cenários com base em fatos e evidências, a criação de estratégias genuinamente novas — que rompem padrões estabelecidos e abrem mercados inéditos — continua dependendo de lideranças humanas.
Um falso dilema
É plausível imaginar que os conselhos do futuro sejam híbridos: compostos tanto por agentes de IA — especializados em finanças, riscos, mercado ou operações — quanto por executivos humanos capazes de traduzir esses diagnósticos em visão de negócio. Nesse cenário, a vantagem competitiva não estará em escolher entre homens ou máquinas, mas em como integrar os dois para decisões mais rápidas, fundamentadas e estratégicas.
A IA já descobriu a Sala do Conselho. A questão para as empresas agora não é se ela terá lugar na mesa, mas como — e em que papéis. As organizações que responderem primeiro a essa pergunta provavelmente definirão o ritmo da próxima grande onda de competitividade empresarial.
Gabriel Casara é CGO na BlueMetrics e acredita no valor da inteligência, artificial ou não.
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